É sempre assim! Tenho que
estar sempre dependente dos outros para tudo. Melhor ainda, TEMOS de estar
sempre dependentes dos outros para tudo. Ou melhor, temos de estar dependentes
dos outros seja material ou imaterialmente. Incluindo a felicidade.
Principalmente a felicidade. Por mais que pense que vou ser feliz ou sentir-me
feliz tem de haver sempre um filho da puta que arruína esse meu sentimento.
Foda-se.
Nunca nestas duas décadas de
vida estraguei a felicidade de alguém e há pessoas que numa só noite conseguem
arruinar a sua própria felicidade, a dos que lhes estão próximos e a dos que
rodeiam estes últimos.
Estou farto. O saco encheu. De
hoje em diante não vou estragar a minha felicidade pelos outros. Os outros que
se fodam. Estou cansado de fazer sacrifícios pelos outros quando ninguém os faz
por mim. Como ainda há dois dias estava feliz e hoje estou aqui a escrever
isto.
Sinto-me como se estivesse
numa caverna. Onde tudo está escuro e não existe ninguém para me ajudar. Estive
muito perto da luz. Vi-a. Senti-a. Mas apagaram-ma. Nestes momentos obscuros só
há uma coisa que me anima. A música. Não sei se ouço música depressiva porque
estou deprimido se é esta música depressiva que me põe deprimido. Quero que
isso se foda. É um circulo vicioso. Quanto mais deprimido estou mais a quero
ouvir e quanto mais a ouço mais deprimido me sinto. É como se essa depressão
trouxesse alguma felicidade. Por parecer que estou a falar com a música e ela a
dar-me lições de vida.
Estou cansado. Sem forças. Faminto.
Com sede. Sonolento. É como se fisicamente estivesse num deserto e
espiritualmente numa caverna. Preciso que me guiem. Preciso de ajuda. Ajuda essa
que eu sei que nunca virá. É como se estivesse à espera do Godot. Espero por
algo que nunca virá. Vou preparar a minha sepultura neste deserto e adormecer eternamente
nesta caverna. A vida é uma merda. Cada criança que não vem ao mundo não a estamos
a matar estamos a salvá-la. Quem me dera que tivessem feito o mesmo comigo.