SOLDADO – Mais um dia! Mais um dia nesta merda de cidade. Ou
será ruína. Pouco importa. Só estou aqui pelo dinheiro e por poder fazer aquilo
que não podia fazer no mundo ocidental. Matar! Aqui eu posso matar. Fazer com
que os outros implorem a morte. Torturá-los até rastejarem pela morte aos meus
pés. Se sou feliz? Não é algo que me preocupe. Ter vindo para aqui foi a melhor
coisa que podia ter feito. Era capaz de morrer por estas pessoas. Estes
camaradas de guerra que me deram esta vida. Era capaz de rebentar a merda do
meu corpo para todo o lado. Quero matar! Matar! Matar! Matar para não morrer! Posso
não ter uma vida, uma casa, uma família mas tenho a liberdade que não me dão no
outro mundo. Estes anjos trouxeram-me para o Médio Oriente para respeitar a
vontade a Alá. Nós somos os enviados Dele! Eu sou um enviado de Alá! Quero
mudar o mundo. (Pausa). Estão a
chamar-me. Nem sei para o que me chamam. Provavelmente vou invadir um sítio e
matar as pessoas a sangue-frio. Ou talvez vá rebentar com um comboio e explodir
para todo o lado. Se for morrer… só queria despedir-me da minha família. (Chora)
The final chapter
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Rise
Sou um morcego. Como aqueles que
vivem nas cavernas húmidas, escuras e frias. Adoro a escuridão.
ESCURIDÃO. É a primeira coisa de
que me lembro. Estava escuro e eu tinha medo. E depois ela apareceu. Era tão
linda e tão brilhante. Era como se fosse a minha tocha numa noite escura e
fria. Seguia como uma mosca segue a luz até à morte. Segui as pegadas da morte.
EU fiz a minha própria sepultura. SOU O SENHOR DO MEU DESTINO. O SENHOR DA
MINHA MORTE.
Depois da morte veio a decomposição
e de seguida o renascer. Renasci como um homem-novo. Já la vai o tempo em que
dizia longos solilóquios em frente ao espelho. Já lá vai o tempo em que gritava
para a minha Ofélia para ela ir para um convento. Já lá vai o tempo em que fazia
longas caminhadas com o meu Horácio a filosofar sobre a vida. Já lá vai o tempo
em que o Rosencrantz e o Guildenstern me perguntavam o que se passava comigo. Já
lá vai o tempo em que comparava a minha vida com a de Fortimbrás. Já lá vai o
tempo em que comia a minha própria merda e queixava-me de a terem metido no
prato. Já lá vai o tempo em que eu era um monte de merda!
HOJE SOU UM HOMEM MUDADO.
Mas há coisas que nunca mudam. Onde
é que estás Godot?
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Crepúsculo
Continuo em Inglaterra. Aqui tudo é diferente. Não há luz
nem trevas. Estou sempre a tentar alcançar o anoitecer. O crepúsculo é aquela
parte do dia em que o sol já não está visível mas ainda há luz. É o meio-termo
entre luz e trevas. E eu adoro por ter essa mistura. Confesso que gosto mais do
que a escuridão apesar do crepúsculo ser a parte do dia mais rápida que existe
e de ser mais agradável no Verão. Mas por eu ter gostado tanto do crepúsculo nessa
época, é que neste momento tenho de assistir ao pôr-do-sol todos os dias. Será uma
maldição? Ou uma bênção?
Quem me dera que o crepúsculo soubesse o quanto preciso dele.
Mas talvez seja para isso que ele existe na minha vida. Para eu o admirar e me
dar esperança de que a noite irá correr muito melhor que o dia que passou.
É no crepúsculo que eu me sinto muito mais consciente e que
tenho noção do certo e do errado. E então agora que estou em Inglaterra ainda
mais.
No primeiro mês que aqui estive foi apenas uma parte do dia.
Agora é uma droga. Pior que a cocaína por agarrar mais depressa e por ser mais
prejudicial. Se for preciso é a droga mais viciante e maléfica que existe para
mim, por saber também que nunca vou alcançar pois o crepúsculo dura alguns
momentos do dia e eu quero que ele dure 24 horas por dia, logo será IMPOSSÍVEL a
sua conquista.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
«Diz-me como vez Hamlet dir-te-ei quem és»
Saí do jogo. Como uma peça de
xadrez que chegou ao fim. Agora só posso esperar que alguém me ajude para
voltar mas até la estou em stalemate.
Como fizeram com o Hamlet assim
fizeram comigo. «Ele está a ficar louco. Vou mandá-lo para Inglaterra». Mas
como o Hamlet, voltarei um homem diferente. Obviamente que não fui para
Inglaterra – antes tivesse ido – voltei para as minhas origens. A minha vida
não é muito diferente da de Hamlet. Ambos vivemos como príncipes – Hamlet era mesmo -; ele tem a necessidade de fazer solilóquios ao longo da peça
e eu em vez disso uso este blog;
quando somos atacados gostamos de dar respostas ágeis e provocatórias; somos
existencialistas; e temos uma grande necessidade de morrer para deixar o mundo
nos eixos mas não o conseguimos fazer por falta de coragem.
As pessoas à minha volta têm a
mesma relação que as personagens têm à volta de Hamlet. Temos uma mãe e um pai
– embora o dele apareça sob a forma de fantasma – que admiramos e ao mesmo
tempo não nos compreendem; ambos temos um Horácio a quem contamos os nossos
segredos mais íntimos e temos a certeza absoluta de que não vão sair dali;
temos dois amigos “casados” – Rosencrantz e Guildenstern – que interferem na
nossa vida quando as coisas ficam complicadas, embora em Hamlet as intenções deles sejam diferentes; temos um Cláudio que
apenas nos meteu na merda por egoísmo sem se preocupar com os nossos
sentimentos e que nos é encarregue matá-lo mas não o conseguimos fazer; temos
uma Ofélia que é aquela típica parva que por mais para trás que nós lhe demos
ela nunca nos vai largar embora já lhe tenha sido dado a entender – mais do que uma vez –
que não existe um nós; temos um
Laertes que foi o nosso rival durante muito tempo mas no “fim” revelou-se um
grande aliado; temos um Polónio que funciona como alívio cómico na nossa vida;
e até temos um Fortimbrás que é aquela pessoa que teve um percurso de vida
semelhante ao nosso mas que, ao contrário de nós, é um homem de acção e faz
algo na vida enquanto que nós somos homens de inacção e não sabemos bem o que
fazemos da vida.
Com a minha vida era capaz de
escrever uma peça de teatro semelhante à de Shakespeare – com muito menos
qualidade obviamente –. Só tenho pena que Hamlet não tenha a escuridão que eu
tenho e preciso na minha vida, pois a Ofélia nunca na vida poderia representar essas
trevas. Ela é completamente luz, toda ela brilha como a luz que nem sequer
chegou a entrar na minha vida.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Light vs Dark
Na chuva. Foi onde fui deixado. Sinto-me
molhado, com frio, abandonado e isolado.
«Quero fumar. Um cigarro»1
foi o que ouvi durante toda a noite. Tinha duas vozes a sussurrar-me ao ouvido.
A da luz e a interior. Apesar de ter estado perto da luz ontem à noite não queria
estar com ela. Queria apenas estar com o Me,
myself and I. sem ninguém perto de mim. Ontem não queria nem luz nem trevas.
Neste momento sinto-me melhor nas trevas do que na luz. É por esta razão digo
que sou um morcego. Adoro as trevas.
Passei pelas trevas há pouco – ainda
não vi a luz – cruzámo-nos. Caminhávamos ao encontro um do outro vindos de direcções
opostas. Ela sorriu para mim e eu respondi-lhe «podes passar». Disse-o de uma
maneira doce e suave. Irónico como ontem fui frio para a luz e há pouco doce
com as trevas.
Passados cinco minutos desse
momento voltei a falar com ela. Fui eu que provoquei esse momento. Fui ter com
ela e perguntei-lhe algo estupido que ate já sabia a resposta mas só precisava
de a ouvir. Se era como eu tinha imaginado. E era. Era não, É.
Fuck the light and bless darkness. A partir de agora irei seguir os
meus instintos e não o que está correcto.
Se não procurar-mos o Godot nunca
o vamos encontrar.
1 As criadas de Jean Genet
Pain or no pain: that is the question
Passei pela luz
há pouco mas ela fugiu de mim. Evaporou-se como a água num dia de calor. Como
se eu fosse um fantasma e assim que me aproximo dela apenas desaparece.
Não tive
oportunidade de me drogar. A minha droga é a música. Precisava de algo que aliviasse
a minha raiva por essa razão estive a jogar no telemóvel, cujo objectivo do
jogo é partir vidros com umas bolas de metal. Precisava de ouvir algo a partir.
Quando estou irritado tenho o hábito de esmurrar em todos os objectos que fazem
barulho. Sinto prazer nisso mas o que me faz delirar é essa dor que permanece
nas mãos ou no corpo quando me agrido. Mais tarde a dor pode ser incomodativa
mas naquele momento é a maior fonte de prazer que um ser humano pode ter.
A dor é bastante
misteriosa. Quando os outros nos magoam é insuportável mas quando é uma auto-agressão
torna-se divinal. Odeio esses filhos da puta que adoram torturar os outros. A
todos os que me fizeram mal adorava ser eu um dia a torturar-vos. Fazer-vos
sangrar – bleed it out –. Mas ao fazê-lo estaria a dar uma
bênção. Pois se a vida é um sofrimento, tirá-la acabaria com esse sofrimento.
Por essa razão mais valia deixá-los viver e ser eu a seguir as pegadas da
morte.
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