quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Matar para não morrer

SOLDADO  Mais um dia! Mais um dia nesta merda de cidade. Ou será ruína. Pouco importa. Só estou aqui pelo dinheiro e por poder fazer aquilo que não podia fazer no mundo ocidental. Matar! Aqui eu posso matar. Fazer com que os outros implorem a morte. Torturá-los até rastejarem pela morte aos meus pés. Se sou feliz? Não é algo que me preocupe. Ter vindo para aqui foi a melhor coisa que podia ter feito. Era capaz de morrer por estas pessoas. Estes camaradas de guerra que me deram esta vida. Era capaz de rebentar a merda do meu corpo para todo o lado. Quero matar! Matar! Matar! Matar para não morrer! Posso não ter uma vida, uma casa, uma família mas tenho a liberdade que não me dão no outro mundo. Estes anjos trouxeram-me para o Médio Oriente para respeitar a vontade a Alá. Nós somos os enviados Dele! Eu sou um enviado de Alá! Quero mudar o mundo. (Pausa). Estão a chamar-me. Nem sei para o que me chamam. Provavelmente vou invadir um sítio e matar as pessoas a sangue-frio. Ou talvez vá rebentar com um comboio e explodir para todo o lado. Se for morrer… só queria despedir-me da minha família. (Chora)

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Rise



Sou um morcego. Como aqueles que vivem nas cavernas húmidas, escuras e frias. Adoro a escuridão.
ESCURIDÃO. É a primeira coisa de que me lembro. Estava escuro e eu tinha medo. E depois ela apareceu. Era tão linda e tão brilhante. Era como se fosse a minha tocha numa noite escura e fria. Seguia como uma mosca segue a luz até à morte. Segui as pegadas da morte. EU fiz a minha própria sepultura. SOU O SENHOR DO MEU DESTINO. O SENHOR DA MINHA MORTE.
Depois da morte veio a decomposição e de seguida o renascer. Renasci como um homem-novo. Já la vai o tempo em que dizia longos solilóquios em frente ao espelho. Já lá vai o tempo em que gritava para a minha Ofélia para ela ir para um convento. Já lá vai o tempo em que fazia longas caminhadas com o meu Horácio a filosofar sobre a vida. Já lá vai o tempo em que o Rosencrantz e o Guildenstern me perguntavam o que se passava comigo. Já lá vai o tempo em que comparava a minha vida com a de Fortimbrás. Já lá vai o tempo em que comia a minha própria merda e queixava-me de a terem metido no prato. Já lá vai o tempo em que eu era um monte de merda!
HOJE SOU UM HOMEM MUDADO.
Mas há coisas que nunca mudam. Onde é que estás Godot?