quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Crepúsculo



Continuo em Inglaterra. Aqui tudo é diferente. Não há luz nem trevas. Estou sempre a tentar alcançar o anoitecer. O crepúsculo é aquela parte do dia em que o sol já não está visível mas ainda há luz. É o meio-termo entre luz e trevas. E eu adoro por ter essa mistura. Confesso que gosto mais do que a escuridão apesar do crepúsculo ser a parte do dia mais rápida que existe e de ser mais agradável no Verão. Mas por eu ter gostado tanto do crepúsculo nessa época, é que neste momento tenho de assistir ao pôr-do-sol todos os dias. Será uma maldição? Ou uma bênção?
Quem me dera que o crepúsculo soubesse o quanto preciso dele. Mas talvez seja para isso que ele existe na minha vida. Para eu o admirar e me dar esperança de que a noite irá correr muito melhor que o dia que passou.
É no crepúsculo que eu me sinto muito mais consciente e que tenho noção do certo e do errado. E então agora que estou em Inglaterra ainda mais.
No primeiro mês que aqui estive foi apenas uma parte do dia. Agora é uma droga. Pior que a cocaína por agarrar mais depressa e por ser mais prejudicial. Se for preciso é a droga mais viciante e maléfica que existe para mim, por saber também que nunca vou alcançar pois o crepúsculo dura alguns momentos do dia e eu quero que ele dure 24 horas por dia, logo será IMPOSSÍVEL a sua conquista.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

«Diz-me como vez Hamlet dir-te-ei quem és»



Saí do jogo. Como uma peça de xadrez que chegou ao fim. Agora só posso esperar que alguém me ajude para voltar mas até la estou em stalemate.
Como fizeram com o Hamlet assim fizeram comigo. «Ele está a ficar louco. Vou mandá-lo para Inglaterra». Mas como o Hamlet, voltarei um homem diferente. Obviamente que não fui para Inglaterra – antes tivesse ido – voltei para as minhas origens. A minha vida não é muito diferente da de Hamlet. Ambos vivemos como príncipes – Hamlet era mesmo -; ele tem a necessidade de fazer solilóquios ao longo da peça e eu em vez disso uso este blog; quando somos atacados gostamos de dar respostas ágeis e provocatórias; somos existencialistas; e temos uma grande necessidade de morrer para deixar o mundo nos eixos mas não o conseguimos fazer por falta de coragem.
As pessoas à minha volta têm a mesma relação que as personagens têm à volta de Hamlet. Temos uma mãe e um pai – embora o dele apareça sob a forma de fantasma – que admiramos e ao mesmo tempo não nos compreendem; ambos temos um Horácio a quem contamos os nossos segredos mais íntimos e temos a certeza absoluta de que não vão sair dali; temos dois amigos “casados” – Rosencrantz e Guildenstern – que interferem na nossa vida quando as coisas ficam complicadas, embora em Hamlet as intenções deles sejam diferentes; temos um Cláudio que apenas nos meteu na merda por egoísmo sem se preocupar com os nossos sentimentos e que nos é encarregue matá-lo mas não o conseguimos fazer; temos uma Ofélia que é aquela típica parva que por mais para trás que nós lhe demos ela nunca nos vai largar embora já lhe tenha sido dado a entender – mais do que uma vez – que não existe um nós; temos um Laertes que foi o nosso rival durante muito tempo mas no “fim” revelou-se um grande aliado; temos um Polónio que funciona como alívio cómico na nossa vida; e até temos um Fortimbrás que é aquela pessoa que teve um percurso de vida semelhante ao nosso mas que, ao contrário de nós, é um homem de acção e faz algo na vida enquanto que nós somos homens de inacção e não sabemos bem o que fazemos da vida.
Com a minha vida era capaz de escrever uma peça de teatro semelhante à de Shakespeare – com muito menos qualidade obviamente –. Só tenho pena que Hamlet não tenha a escuridão que eu tenho e preciso na minha vida, pois a Ofélia nunca na vida poderia representar essas trevas. Ela é completamente luz, toda ela brilha como a luz que nem sequer chegou a entrar na minha vida.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Light vs Dark



Na chuva. Foi onde fui deixado. Sinto-me molhado, com frio, abandonado e isolado.
«Quero fumar. Um cigarro»1 foi o que ouvi durante toda a noite. Tinha duas vozes a sussurrar-me ao ouvido. A da luz e a interior. Apesar de ter estado perto da luz ontem à noite não queria estar com ela. Queria apenas estar com o Me, myself and I. sem ninguém perto de mim. Ontem não queria nem luz nem trevas. Neste momento sinto-me melhor nas trevas do que na luz. É por esta razão digo que sou um morcego. Adoro as trevas.
Passei pelas trevas há pouco – ainda não vi a luz – cruzámo-nos. Caminhávamos ao encontro um do outro vindos de direcções opostas. Ela sorriu para mim e eu respondi-lhe «podes passar». Disse-o de uma maneira doce e suave. Irónico como ontem fui frio para a luz e há pouco doce com as trevas.
Passados cinco minutos desse momento voltei a falar com ela. Fui eu que provoquei esse momento. Fui ter com ela e perguntei-lhe algo estupido que ate já sabia a resposta mas só precisava de a ouvir. Se era como eu tinha imaginado. E era. Era não, É.
Fuck the light and bless darkness. A partir de agora irei seguir os meus instintos e não o que está correcto.
Se não procurar-mos o Godot nunca o vamos encontrar.

1 As criadas de Jean Genet

Pain or no pain: that is the question



Passei pela luz há pouco mas ela fugiu de mim. Evaporou-se como a água num dia de calor. Como se eu fosse um fantasma e assim que me aproximo dela apenas desaparece.
Não tive oportunidade de me drogar. A minha droga é a música. Precisava de algo que aliviasse a minha raiva por essa razão estive a jogar no telemóvel, cujo objectivo do jogo é partir vidros com umas bolas de metal. Precisava de ouvir algo a partir. Quando estou irritado tenho o hábito de esmurrar em todos os objectos que fazem barulho. Sinto prazer nisso mas o que me faz delirar é essa dor que permanece nas mãos ou no corpo quando me agrido. Mais tarde a dor pode ser incomodativa mas naquele momento é a maior fonte de prazer que um ser humano pode ter.
A dor é bastante misteriosa. Quando os outros nos magoam é insuportável mas quando é uma auto-agressão torna-se divinal. Odeio esses filhos da puta que adoram torturar os outros. A todos os que me fizeram mal adorava ser eu um dia a torturar-vos. Fazer-vos sangrar – bleed it out . Mas ao fazê-lo estaria a dar uma bênção. Pois se a vida é um sofrimento, tirá-la acabaria com esse sofrimento. Por essa razão mais valia deixá-los viver e ser eu a seguir as pegadas da morte.

domingo, 9 de novembro de 2014

O início do fim


É sempre assim! Tenho que estar sempre dependente dos outros para tudo. Melhor ainda, TEMOS de estar sempre dependentes dos outros para tudo. Ou melhor, temos de estar dependentes dos outros seja material ou imaterialmente. Incluindo a felicidade. Principalmente a felicidade. Por mais que pense que vou ser feliz ou sentir-me feliz tem de haver sempre um filho da puta que arruína esse meu sentimento. Foda-se.
Nunca nestas duas décadas de vida estraguei a felicidade de alguém e há pessoas que numa só noite conseguem arruinar a sua própria felicidade, a dos que lhes estão próximos e a dos que rodeiam estes últimos.
Estou farto. O saco encheu. De hoje em diante não vou estragar a minha felicidade pelos outros. Os outros que se fodam. Estou cansado de fazer sacrifícios pelos outros quando ninguém os faz por mim. Como ainda há dois dias estava feliz e hoje estou aqui a escrever isto.
Sinto-me como se estivesse numa caverna. Onde tudo está escuro e não existe ninguém para me ajudar. Estive muito perto da luz. Vi-a. Senti-a. Mas apagaram-ma. Nestes momentos obscuros só há uma coisa que me anima. A música. Não sei se ouço música depressiva porque estou deprimido se é esta música depressiva que me põe deprimido. Quero que isso se foda. É um circulo vicioso. Quanto mais deprimido estou mais a quero ouvir e quanto mais a ouço mais deprimido me sinto. É como se essa depressão trouxesse alguma felicidade. Por parecer que estou a falar com a música e ela a dar-me lições de vida.
Estou cansado. Sem forças. Faminto. Com sede. Sonolento. É como se fisicamente estivesse num deserto e espiritualmente numa caverna. Preciso que me guiem. Preciso de ajuda. Ajuda essa que eu sei que nunca virá. É como se estivesse à espera do Godot. Espero por algo que nunca virá. Vou preparar a minha sepultura neste deserto e adormecer eternamente nesta caverna. A vida é uma merda. Cada criança que não vem ao mundo não a estamos a matar estamos a salvá-la. Quem me dera que tivessem feito o mesmo comigo.