Saí do jogo. Como uma peça de
xadrez que chegou ao fim. Agora só posso esperar que alguém me ajude para
voltar mas até la estou em stalemate.
Como fizeram com o Hamlet assim
fizeram comigo. «Ele está a ficar louco. Vou mandá-lo para Inglaterra». Mas
como o Hamlet, voltarei um homem diferente. Obviamente que não fui para
Inglaterra – antes tivesse ido – voltei para as minhas origens. A minha vida
não é muito diferente da de Hamlet. Ambos vivemos como príncipes – Hamlet era mesmo -; ele tem a necessidade de fazer solilóquios ao longo da peça
e eu em vez disso uso este blog;
quando somos atacados gostamos de dar respostas ágeis e provocatórias; somos
existencialistas; e temos uma grande necessidade de morrer para deixar o mundo
nos eixos mas não o conseguimos fazer por falta de coragem.
As pessoas à minha volta têm a
mesma relação que as personagens têm à volta de Hamlet. Temos uma mãe e um pai
– embora o dele apareça sob a forma de fantasma – que admiramos e ao mesmo
tempo não nos compreendem; ambos temos um Horácio a quem contamos os nossos
segredos mais íntimos e temos a certeza absoluta de que não vão sair dali;
temos dois amigos “casados” – Rosencrantz e Guildenstern – que interferem na
nossa vida quando as coisas ficam complicadas, embora em Hamlet as intenções deles sejam diferentes; temos um Cláudio que
apenas nos meteu na merda por egoísmo sem se preocupar com os nossos
sentimentos e que nos é encarregue matá-lo mas não o conseguimos fazer; temos
uma Ofélia que é aquela típica parva que por mais para trás que nós lhe demos
ela nunca nos vai largar embora já lhe tenha sido dado a entender – mais do que uma vez –
que não existe um nós; temos um
Laertes que foi o nosso rival durante muito tempo mas no “fim” revelou-se um
grande aliado; temos um Polónio que funciona como alívio cómico na nossa vida;
e até temos um Fortimbrás que é aquela pessoa que teve um percurso de vida
semelhante ao nosso mas que, ao contrário de nós, é um homem de acção e faz
algo na vida enquanto que nós somos homens de inacção e não sabemos bem o que
fazemos da vida.
Com a minha vida era capaz de
escrever uma peça de teatro semelhante à de Shakespeare – com muito menos
qualidade obviamente –. Só tenho pena que Hamlet não tenha a escuridão que eu
tenho e preciso na minha vida, pois a Ofélia nunca na vida poderia representar essas
trevas. Ela é completamente luz, toda ela brilha como a luz que nem sequer
chegou a entrar na minha vida.
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