sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

«Diz-me como vez Hamlet dir-te-ei quem és»



Saí do jogo. Como uma peça de xadrez que chegou ao fim. Agora só posso esperar que alguém me ajude para voltar mas até la estou em stalemate.
Como fizeram com o Hamlet assim fizeram comigo. «Ele está a ficar louco. Vou mandá-lo para Inglaterra». Mas como o Hamlet, voltarei um homem diferente. Obviamente que não fui para Inglaterra – antes tivesse ido – voltei para as minhas origens. A minha vida não é muito diferente da de Hamlet. Ambos vivemos como príncipes – Hamlet era mesmo -; ele tem a necessidade de fazer solilóquios ao longo da peça e eu em vez disso uso este blog; quando somos atacados gostamos de dar respostas ágeis e provocatórias; somos existencialistas; e temos uma grande necessidade de morrer para deixar o mundo nos eixos mas não o conseguimos fazer por falta de coragem.
As pessoas à minha volta têm a mesma relação que as personagens têm à volta de Hamlet. Temos uma mãe e um pai – embora o dele apareça sob a forma de fantasma – que admiramos e ao mesmo tempo não nos compreendem; ambos temos um Horácio a quem contamos os nossos segredos mais íntimos e temos a certeza absoluta de que não vão sair dali; temos dois amigos “casados” – Rosencrantz e Guildenstern – que interferem na nossa vida quando as coisas ficam complicadas, embora em Hamlet as intenções deles sejam diferentes; temos um Cláudio que apenas nos meteu na merda por egoísmo sem se preocupar com os nossos sentimentos e que nos é encarregue matá-lo mas não o conseguimos fazer; temos uma Ofélia que é aquela típica parva que por mais para trás que nós lhe demos ela nunca nos vai largar embora já lhe tenha sido dado a entender – mais do que uma vez – que não existe um nós; temos um Laertes que foi o nosso rival durante muito tempo mas no “fim” revelou-se um grande aliado; temos um Polónio que funciona como alívio cómico na nossa vida; e até temos um Fortimbrás que é aquela pessoa que teve um percurso de vida semelhante ao nosso mas que, ao contrário de nós, é um homem de acção e faz algo na vida enquanto que nós somos homens de inacção e não sabemos bem o que fazemos da vida.
Com a minha vida era capaz de escrever uma peça de teatro semelhante à de Shakespeare – com muito menos qualidade obviamente –. Só tenho pena que Hamlet não tenha a escuridão que eu tenho e preciso na minha vida, pois a Ofélia nunca na vida poderia representar essas trevas. Ela é completamente luz, toda ela brilha como a luz que nem sequer chegou a entrar na minha vida.

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